terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A Vida Decepciona?



Diz: Berth Hellinger:



"A vida decepciona-o para você parar de viver com ilusões e ver a realidade. A vida vai destruir todo o supérfluo, até que reste somente o importante. A vida não te deixa em paz, para que deixe de culpar-se e aceite tudo como "É". A vida vai retirar o que você tem, até que você parar de reclamar e começar agradecer. A vida envia pessoas conflitantes para te curar e para que você deixe de olhar pra fora e comece refletir o que você tem dentro.


A vida permite que você caia de novo e de novo, até que você decida aprender a lição. A vida te tira do caminho e te apresenta encruzilhadas, até que você pare de querer controlar e você flua como um rio. A vida coloca seus inimigos na estrada, até que você pare de "reagir". A vida te assusta e assusta quantas vezes for necessário, até que você perca o medo e recupere sua fé.


A vida tira o seu amor verdadeiro, ele não concede ou permite, até que você pare de tentar comprá-lo.


A vida te distancia das pessoas que você ama, até entender que não somos esse corpo, mas a alma que ele contém. A vida ri de você tantas vezes, até você parar de levar tudo tão a sério e rir de si mesmo. A vida quebra você e quebra você em tantas partes quantas forem necessárias para a luz penetrar ali.


A vida confronta você com rebeldes, até que você pare de tentar controlar. A vida repete a mesma mensagem, mesmo com gritos e tapas, até você finalmente ouvir. A vida envia raios e tempestades, então você acorda. A vida o humilha e derrota de novo e de novo até que você decida deixar seu ego morrer. A vida lhe nega bens e grandeza até que você pare de querer bens e grandeza e comece a servir. A vida corta suas asas e poda suas raízes, até que você não precise de asas nem raízes, mas apenas desapareça nas formas e voe do Ser. A vida lhe nega milagres, até que você entenda que tudo é um milagre. A vida encurta seu tempo, então você se apressa para aprender a viver. A vida te ridiculariza até você se tornar nada, até você se tornar ninguém, e então você se torna tudo.


A vida não te dá o que você quer, mas o que você precisa evoluir. A vida te machuca, te machuca, te atormenta até que você solte seus caprichos e birras e aprecie a respiração. A vida te esconde os tesouros até que você aprenda a sair para a vida e buscá-los. A vida te nega a Deus, até você vê-lo em todos e em tudo. A vida te acorda, te poda, te quebra, te desaponta, te quebra... até que só o AMOR permaneça em ti.”


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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Cap. III,2 - O Segredo do Crescimento - Taoísmo



O megarefe do príncipe Wen Hui estava a trinchar um boi. Os movimentos da mão, os jeitos de ombro, os movimento dos pés, o atirar do joelho, o som da carne a apartar-se e ser cortada e o zumbido da faca todos estavam num ritmo perfeito, como se fosse uma dança ou uma sinfonia.
- É maravilhoso ver como conseguiste dominar a tua técnica ! - comentou o príncipe.
O cozinheiro pousou a sua faca e disse:
- Procuro agir de acordo com o tao, a ordem natural das coisas. É algo que está para além da mera técnica. Quando comecei a talhar, via à minha frente o boi todo. Mas, depois de três anos de prática, já não os via como um todo. Via as distinções. E, agora, os meus sentidos param de funcionar e é o espírito que me guia livremente. Sem um plano, seguindo o instinto, sigo as fibras naturais deixando a faca encontrar o seu caminho entre as muitas aberturas escondidas, tirando proveito do que lá está, sem tocar nunca num ligamento ou tendão e muito menos numa articulação importante.
Um bom cozinheiro muda de faca uma vez por ano, porque sabe trinchar, enquanto um cozinheiro medíocre tem que mudar de faca cada mês, porque só sabe cortar. Pois eu já tenho esta minha faca há dezanove anos e trinchei milhares de bois com ela. E, no entanto, a lâmina está tão fresca como quando saiu da pedra de afiar. Há espaços entre as articulações. E a lâmina da faca, que quase não tem espessura, tem mais que espaço para passar através desses espaços. E é por isso que, passados dezanove anos, a minha lâmina está tão afiada como sempre.
É verdade que há articulações mais difíceis. Quando as sinto aproximar, avalio bem a articulação que surgiu e olho-a com cuidado, mantendo sempre os olhos no que faço e trabalhando devagar. E então, com um movimento muito suave da faca, trincho todo o boi em dois. E ele desmancha-se como um torrão de terra ao cair no chão. Aí, retiro a faca e fico parado, com a sensação de ter conseguido algo de muito importante. Depois, limpo a lâmina e pouso a faca.

- É isso!, disse o príncipe. O meu cozinheiro mostrou-me como devo viver a minha vida!